domingo, 14 de dezembro de 2014

O HOMEM E A CARRAÇA


Resumo: Este texto apresenta uma breve reflexão sobre o comportamento do homem comparado ao da carraça, o homem como ser sociável que depende do outro desde sua nascença para sua sobrevivência, dependência esta que por conta do capitalismo se tornou uma dependência com o objetivo de se aproveitar do outro, visando somente o lucro e vendo-o como um meio para  atingir determinados fins. Quando o homem vê o outro com a visão capitalista ele se torna como a carraça, que depende do outro apenas para sugar-lhe o sangue. 
A Carraça ou carrapato não enxerga, não sente cheiro e  nem ouve, para sugar o sangue, tanto de um animal como ate mesmo de um ser humano, ela só precisa sentir a temperatura de um corpo que tenha seus 33° graus. A carraça não tem outro objetivo, a não ser sugar uma jorrada de sangue, depois se jogar ao chão, procriar e morrer. Ou seja, age por instinto, é pobre de mundo, pois, está no mundo mas não percebe o mundo a sua volta. 


Palavras- chave: Homem, Carraça, Sociabilidade, Dependência.


Introdução


O objetivo deste trabalho é fazer uma pequena comparação entre o homem e a carraça. O homem é por essência um ser sociável, pois como afirma Mondin (1980) sozinho não pode vir a este mundo, nem crescer, nem educar-se sozinho e muito menos satisfazer suas necessidades elementares. Somente em companhia dos outros é que o homem pode obter tudo isto. A carraça também embora aja por puro instinto é totalmente dependente do outro para satisfazer suas necessidades. Veremos no decorrer deste trabalho em quais pontos eles se parecem e em quais se diferem.




O homem é um ser sociável


            Desde seu primeiro aparecimento na terra o homem já é encontrado posto em grupos sociais, que no inicio eram pequenos grupos como, a família, o clã, a tribo e com o decorrer do tempo se tornaram grandes grupos como, a aldeia, a cidade e o estado (MONDIN, 1980).

Como o homem depende do outro para tudo e não pode viver por si próprio e somente para si, a idéia de independência perde totalmente seu sentido e a idéia que prevalece é a de interdependência.

Conforme afirma Mondin (1980), a capacidade do individuo de agir, e até de pensar com certa independência de seu ambiente social ou constatando com ele vai, vai se reduzindo constantemente. Isso quer dizer, entre outras coisas, que o nosso ideal de liberdade e de sociedade livre não pode ser simplesmente definido nos termos de uma independência. Para o homem contemporâneo a redenção coincide com a sua capacidade de não se transformar nesse momento em um individuo do qual a independência na realidade nada seria além de uma impotência perante a gigantesca maquina do estado, mas sem uma pessoa que possa encontrar não perder a si mesma na independência da comunidade. O conteúdo de sua salvação com respeito à sociedade consiste para o homem moderno, no descobrir-se a si mesmo como pessoa que decide a favor de uma relação de interdependência com os outros.

Para Aristóteles o homem é necessariamente ligado aos vínculos sociais, pois depende da relação em sociedade para que possa satisfazer suas próprias necessidades e realizar suas aspirações. É a própria natureza que induz o homem a associar-se com os outros indivíduos e a se organizar em sociedade (MONDIN, 1980).
Essa capacidade de se associar com os outros e viver em sociedade já nasce com o homem Mondin (1980, p.170) afirma que “a sociabilidade é a conseqüência imediata das faculdadesmais ligadas ao ser do homem, que são: o conhecimento, a corporeidade, a linguagem, a liberdade e o amor.
O conhecimento Põe o homem em contato com todo o mundo que o cerca, a linguagem lhe permite se comunicar com os outros sua idéias próprias, o corpo da à possibilidade de realizar suas atividades do dia a dia como, trabalhar, praticar esportes, se divertir, e o amor e a liberdade colocam-no á disposição para dar se aos outros e para fazer-se participantes das próprias coisas e do próprio ser (MONDIN, 1980).

Mondin faz uma comparação entre o homem e o animal e mostra que a capacidade que o homem tem de cognição, afeição e lingüística o faz superar as expressões de sociabilidade dos animais, uma vez que o homem pelo simples fato de pensar realiza a dimensão da sociabilidade livremente em organizações e instituições (governos, parlamentos, tribunais, exércitos, escolas, hospitais, trens, rodovias, aviões, estádio, teatros, imprensa, radio, televisão, et.).

A grande diferença entre as sociedades humanas e as sociedades animais é que, as sociedades humanas são governadas pelo seu exterior “instituições que torna possível a existência da linguagem”, enquanto as sociedades animais são governadas pelo instinto (MONDIN, 1980).

O homem depende dessa convivência com o outro para se tornar sujeito de uma determinada sociedade onde nasce e para adquirir os valores desta sociedade assim como, cultura, religião, ética, et..

Conforme afirma Mondin (1980), é por meio do convívio com o outro em sociedade que o homem se torna um individuo cultural, religioso, adquire princípios morais e certos critérios estéticos segundo a sociedade a qual pertence.

Tomazi (2010) afirma que, o conhecimento se desenvolveu socialmente, e se quisermos compreender como pessoas de determinada época pensavam, precisamos primeiro saber em que meio social elas viveram, pois o pensamento de um período da historia é criado pelos indivíduos em grupos ou classes.

Na antiguidade o individuo sozinho era pouco valorizado, esua importânciaestava relacionada ao grupo que este pertencia, seja a família, estado ou clã.

Segundo Tomazi (2010), entre os povos antigos, pouco valor era dado ao individuo sozinho, e a importância deste individuo estava inserida no grupo a que pertencia (família, estado, clã, et.). Se analisarmos a sociedade indígena, a grega, a romana e a medieval, apesar das diferenças naturais entre os indivíduos, não havia a hipótese de pensar em alguém fora de seu grupo.

A partir do século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo e do pensamento liberal, é que se firma a idéia de individuo e individualismo, pois se colocava a felicidade humana no centro das atenções. Não se tratava da felicidade como um todo, mas de sua expressão material. O que importava para esse tipo de pensamento era a pessoa ter dinheiro, ser dono do seu próprio negocio e ter bens. No século XIX essa visão estava completamente estabelecida, e a sociedade capitalista, consolidada (TOMAZI, 2010).


Considerações finais:


            Como vimos no decorrer deste trabalho, o homem desde que nasce depende do outro e essa dependência já faz dele um ser sociável que depende dessa relação com o outro para sua sobrevivência. Essa dependência do outro deve ser uma dependência recíproca e não uma dependência como a da carraça (aproveitadora), pois o único objetivo da carraça é sugar o sangue do outro para sua própria manutenção.
            Mas infelizmente com o crescimento do capitalismo o homem só consegue ver o outro como produto, negócio, objeto e um forte concorrente. Vivenciamos isto todos os dias na escola, no trabalho, em casa, nas ruas com as propagandas, na televisão, radio internet, etc. e infelizmente a escola que deveria ser a primeira a lutar contra este tipo de pensamento, acaba sendo mais uma e talvez o principal dispositivo regulador a favor do capitalismo, com uma visão totalmente competidora e individualista, pois ela mesma nos ensina a estudarmos para concorrermos a uma posição melhor no mercado de trabalho e não para sermos seres melhores. O homem como um ser social deve viver em função dos outros, numa relação de respeito, solidariedade, reciprocidade, deve estar disposto a se dar pelo o outro, entender o outro, etc. Tudo isto podemos resumir em uma única palavra, “Amor”.
Quando a nossa dependência pelo outro é igual à carraça, nos vivemos em função de nos mesmos, em função de nossos próprios desejos e necessidades, só o que nos importa são nossos próprios valores, só o que importa é o que pensamos o que fazemos e não nos importamos com os outros e muito menos se nossas decisões afeta os outros. Quando agimos assim, agimos como a carraça, nos aproximamos do outro só para tirar proveito, para querer ser melhores, para prejudicar, humilhar, em fim, para sugar.
Precisamos repensar nossa pratica, e para isso devemos reconhecer nossas limitações e lembrarmos todos os dias que dependemos do outro, mas não com a visão do capitalismo. Precisamos do outro para ter uma relação de dialogo, de reciprocidade como já disse antes, uma relação de igualdade, pois para ter dialogo é preciso que aja essa relação de igualdade, respeito e amor pelo meu próximo.

           


REFERENCIAS

Agamben Giorgio, O aberto: O homem e o animal. (Biblioteca de filosofia Contemporânea: 42).

Mondin Battista, Introdução á filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo: Paulus, 1980.

Mondin Battista, O homem, quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. São Paulo: Paulus, 1980.

Tomazi Nelson, Sociologia para o ensino médio, 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.




 Agamben Giorgio, O aberto: O homem e o animal. (Biblioteca de filosofia Contemporânea: 42).